13.3.18

Maré viva

Guardo no bolso
um pedaço da carne honesta
em segredo escondido
do olhar sem peias.

Guardo em mim
as armas por terçar
armas nunca bélicas
no parapeito da alma não frugal.

Guardo no avesso do olhar
as frondosas pedras cinzeladas
no rebordo das palavras vorazes
preces sem audiência à espera.

Guardo em estiradores gastos
o esboço impossível
e reservo um esgar desmaiado
na indiferença metodicamente alinhada.

Guardo na janela forrada pelo mar
o luar que veio parar às mãos
um sorriso pueril
contraponto da reincidente fuselagem.

Guardo
em memória futura
a cartografia dos sonhos vertidos
os ramos dúcteis no preparo do dia
a bastante competência
a distração dos contratempos.

Guardo-me das intempéries
do flagelo intemporal
da repressão do dissídio
dos embaraços sem remédio.

Guardo-me.
Porque sei que
“moro no rés-do-chão do pensamento”
e agrada-me
porque do pensamento se cuida
na quadriga de minha atalaia.

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