Não faço a
menor ideia.
De nada.
No assalto
das dúvidas
tenho índice
numeroso.
Das ideias
feitas
das certezas
à prova de bala
dos céus
eternamente claros
das luas
que só irradiam luar alvo
dos profetas
que adivinham oráculos:
não faço a
menor ideia.
E gosto.
Gosto que
as ideias sejam tumultuosas
congraçadas
dentro das veias febris
a que apetecem
os remoinhos dos opostos
a dança de
contraditórios
as interrogações
seguidas de interrogações
o deserto
de respostas.
Não faço a
menor ideia
da base
que recebe os sedimento da razão;
pois da
razão
julgo ser
volátil
matéria que
se dissolve entre os dedos
as mãos na
impossibilidade de a agarrar.
Não faço a
menor ideia
por que se
excedem em fantasiosas bússolas
os pederastas
da razão
por que
tiram a pele à pele
na ambição
de saberem algum saber.
Na dúvida
prefiro o
contentamento
de não
fazer a menor ideia
– nem,
muito menos, a maior das ideias.
Quero os
livros sem certezas:
argumentos
ao sufrágio outro
convite à
dissidência
só pelo
inexcedível prazer
da argumentação
seguida do seu contrário
– sem o
imperativo de inventariar vencedor:
não há nas
ideias
cunho de
superioridade
(e se há
em alguns peritos em tresler,
seu é o
mal).
Quero aqueles
livros
embebidos na
intelectual humildade
de serem
desmentidos em ilações
atiradas ao
escrutínio.
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