7.3.18

Ópera

O suor tingido de mar
nos olhos réplica de lua
esbraceja lugar entre os poros teimosos.
No sufrágio do desejo
a boca quente, faminta
arremete como um lobo
sobre a carne trémula que é teu corpo
retrato de um corço não apavorado.
No pináculo de um sonho
sinto as veias efervescentes
que vogam em teu caudal
sonho em si puro.
Sorvo da tua boca
a saliva refúgio,
a muralha
e damos as mãos sobranceiras
pois sabemos das desregras.
Sabemos da loucura
que dança nos corpos guerreiros.
Há palavras ciciadas
um tudo a que se afivela o momento
sua perenização
como se guardássemos o tempo
no penhor das nossas mãos uníssonas.
Somos césares
na grandeza do exíguo terreiro
onde triunfamos.
Temos a manhã
por fiel depositária da combustão dos corpos
na demora desejada
na volúpia que descarna as palavras,
insuficientes para retratos fidedignos,
mas sempre palavras-refúgio.
Sabemos que conta
o que contarmos como sortilégio,
o osso fundo em forma de esteio.
Corremos
no pêndulo da vontade que acomete.
Corremos
com o vagar que nos manda
e esquecemos os gramas do tempo
por dentro do voraz desejo sem freio. 
Somos alpinistas indomáveis
e nem alcantilados vãos nos retardam.
Em teu campo florido
derramo o albino suor.
Consumação.
E damos as mãos:
somos deuses
de uma matéria perfumada
com a nossa assinatura.

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