12.3.18

Demónios desamparados

Ah, estes demónios de veludo
barba rala e anéis vitupério
numa correria frontal
contra o comboio da lógica
enxertam suas beatas ainda acesas
na boca distraída dos amolecidos.
Os demónios amestrados
são risíveis
ninguém os leva a sério,
a não ser como contrafação do termo.

Não é como dantes:
no pelourinho dos pesadelos
demónios apalavrados
lançavam as sementes do medo
uma vergonha imensa
como se do lago viéssemos untados
com as penas rosadas dos cisnes
e toda a gente escarnecesse.
Era isso:
tínhamos medo do palco
onde troçar dos nefelibatas era passatempo.

Os demónios tinham rosto
nem se transfiguravam atrás de máscaras.
Mas pesadelos desta leva
eram dantes.

Podia-se alvitrar
que os demónios hodiernos
são de fracos pergaminhos.
Desengano:
seus motejos desvitais
à mercê de infundadas cominações
– e o sono é à prova das conspirações
dissolvendo a legitimidade dos demónios
na água pestilencial que se verte nos bueiros.

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