Se fosse uma árvore
era testemunha do tempo inteiro.
Dizem
que as árvores morrem de pé.
Julgo não estar errado
se se estipular
que não dormem também,
as árvores.
(Pois se em pé sempre estão
e se lhes não conhece pose de sono,
a pose é imutável.)
Se fosse árvore,
testemunha do tempo inteiro
perguntar-me-iam
pelo sortilégio do tempo
pelas barcaças invisíveis
que metem fundos remos nas horas sem moldura
pelos olhos sem medo da penumbra da noite
pelos vorazes letrados
que serpenteiam as palavras
os deuses sem rosto
(e, portanto, mitos)
que patrulham o sossego da madrugada.
Seria demandado
pelas autoridades
pelas viúvas sedentas de assunto
pelas patrulhas sem nome
pelos agentes secretos sem gabardinas
pelos astrólogos falazes
pelos curadores dos costumes
pelos poetas sem inspiração
pelos ideólogos subitamente órfãos
(de ideias)
pelos remotos, heráldicos barões.
Não sei o que teria para dizer
a tanta gente em suas demandas.
As árvores
são guardadoras de silêncios
o mais sepulcral dos silêncios
em formosa constelação de estrofes
embuçada no mais elevado
direito de não falar.