24.11.18

Autoajuda

Bebeu coragem
nos preceitos sagrados 
de guru de categoria. 
Até as cinzas pisou
e descalços iam os pés. 
Ainda jura
que a dor não o derrotou. 
Tudo aquilo
era uma embriaguez de vida
a perene boa disposição
era como se não tocasse em desacerto
a melancolia
o contratempo
a injustiça 
para dela se dizer vítima. 
Éramos quase capazes de jurar
a crer na encenação
que era o epítome da perfeição. 
Perguntava, perplexo
diante da nossa dúvida metódica:
como é possível 
uma alma que de alma seja feita
recusar as lições do guru?
Oh, oportunidade em débito:
dilação da excelência
diligência da serenidade
e a desoportunidade de sobre cinzas andar
sem sequer a dor notar
e a epiderme ganhar tisnado aspeto. 
Oh, crime de lesa-majestade
deixar tanta virtude em órfão estado
desperdiçar
a bondade do régulo da autoajuda,
oh impenitente insubordinação
de que sobram, hélas,
as providências que desacautelam 
os dias inteiros ungidos 
pelo imorredoiro bem-estar.

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