Todos os verbos
são poucos na maré diuturna
no pressentimento do passado
nas bocas sedentas dos apóstatas.
Todas as formas congruentes
as rimas improcedentes
os solavancos das noites versadas
os antagonistas sem rival
todas são escassas
na lua embaciada.
Todos os dedos
são poucas estrofes
no vagar do outono
nas janelas debruçadas sobre o rio
nas intempéries que não se intimidam
todos os refrões
são matéria gasta.
Todos os medos
são poucos na vertigem dos ousados
no penhor da lucidez
nas tílias que dão extensão à avenida
no idioma prévio
nas fotografias a preto e branco
que emolduram marinheiros desembarcados.
Todos os cedos
são poucos no caldeirão de maestros
no ritmo das sílabas docemente soletradas
sem a recusa do devir
no antepassado irrepetível
da palavra incansável
contra o dogma do silêncio.