28.2.19

Destempo

Enganei-me na data.
Era o ontem vertido no amanhã
ainda cedo
mas talvez já tarde.
Aprisionado neste labirinto
não sabia das cores emaciadas da manhã
e subi ao promontório mais perto
em sinal de refúgio.
Fiquei a contemplar o mar
que 
(oh, lugar-comum)
parecia não ter fim.
Por mais que perguntasse aos marinheiros
era provável que não ouvissem
tão longe estavam.
Berrei o quanto pude.
Compreendi
que estava a berrar comigo mesmo
refém da abjuração a que me entreguei
por entre a capitulação da voz
o arremedo dos verbos
e desatenção sacrílega.
Perguntei ao céu que data era esta.
Podia ser
que não estivesse a destempo.

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