Guardamos
na lombada do dia
o traço fino das nuvens
a baça lembrança
do porvir.
Há espadas gastas
na meada à espera de vez
e os artistas emudecem
na greve contra a febre
das palavras.
As tochas ufanas
sublevam-se no copo mais alto
em prosa inflamada
por dentro das fogueiras que as
ateiam.
Nos claustros
em doses razoáveis
a doçaria conventual rima
com os mendigos subtraídos
às ruas.
Não contam os verbetes rasurados
ou as estações de comboios abandonadas
na impressão venal dos cobradores
correndo até o fôlego se dissolver
dentro da tirania do vento irrecusável.
Pela noite
à hora do deitar
conto em sílabas
as palavras não ditas:
antes elas do que as palavras
malditas.
Depois do inventário
ofereço-me aos sonhos sem paradeiro
a ossatura hibernada
na louca vertigem do insondável
em que amanhecem os sonhos.
Não saberei
se deles extraio matéria tangível
ou se prefiro o olvido
o propositado, exíguo olvido
para me não cegar com sonhos improváveis.
Hasteado numa bandeira sem rosto
exorto os cálices brandidos
a recusarem os sismos em que dançam
e resguardo-me nas ameias
com o olhar humedecido
pelo vento montanhês.