3.4.19

Jogar às crises

Parece um fingimento
a auréola que descai sobre o rosto
o ancoradouro sem âncora
a meia haste entre a euforia e a melancolia. 
Arrastava o corpo na errância
contra os mastins da memória
os apoderados dos intempestivos pesares;
não sabia das ruas andadas
nem queria saber por mandar os pés
em encruzilhadas por achar:
não podia ser a sua própria negação
e não era a luz desmaiada da alvorada
que o desmentia. 
Ao menos
o conforto que o abraçava,
o de saber que há outros,
muito mais,
que não sabem das bainhas internas
e, imersos numa anestesia mendaz,
não se configuram como casos de crise. 
Nem tudo as dores aplacam
e, assim como assim,
começou o dia com a interrogação
“alguma vez sentiste dores excruciantes?”
e não soube dizer que sim. 
Era outro conforto. 
Há crises 
que são crises apenas fingidas
as dores necessárias
de um conforto 
absurdamente esvaziado de substância. 
As crises da insubstância.

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