12.4.19

O véu sobre o medo (subtração)

Dizia:
“não sei como é morrer” 
– e deixava à porta os ramos sortidos,
colhidos da investida furiosa contra
os impérios resguardados do mal.

Continuava:
“não sei como hei de morrer” 
– e armava os braços contra a lucidez
e em vez de comprar navios de porte
contava os que entravam no porto
sem, contudo, quererem cais.

Dizia, vezes sem conta:
“não acredito que vou morrer”.
Em sua defesa
inventariava um ror de perguntas
órfãs de refutações:

“como sei que morri
se não consigo ser testemunha 
da morte minha?
Como é a morte
se do desprendimento de tudo
se impossibilitam os sentidos?”

As aliterações que se jogavam 
no desarranjo de tudo
prefaciavam o santuário que queria seu;
a morte não sentida
deixara de ser uma inquietação.
Não era perene esta inquietação
(isso era uma certeza):
a crer pelas últimas notícias
a morte é uma interrupção.

“A morte deixara de ser uma inquietação” 
– convencera-se.
E nem assim
o medo cessou de ter sua maré
quando a ideia da morte 
subia podre à boca de cena.

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