Dizia:
“não sei como é morrer”
– e deixava à porta os ramos sortidos,
colhidos da investida furiosa contra
os impérios resguardados do mal.
Continuava:
“não sei como hei de morrer”
– e armava os braços contra a lucidez
e em vez de comprar navios de porte
contava os que entravam no porto
sem, contudo, quererem cais.
Dizia, vezes sem conta:
“não acredito que vou morrer”.
Em sua defesa
inventariava um ror de perguntas
órfãs de refutações:
“como sei que morri
se não consigo ser testemunha
da morte minha?
Como é a morte
se do desprendimento de tudo
se impossibilitam os sentidos?”
As aliterações que se jogavam
no desarranjo de tudo
prefaciavam o santuário que queria seu;
a morte não sentida
deixara de ser uma inquietação.
Não era perene esta inquietação
(isso era uma certeza):
a crer pelas últimas notícias
a morte é uma interrupção.
“A morte deixara de ser uma inquietação”
– convencera-se.
E nem assim
o medo cessou de ter sua maré
quando a ideia da morte
subia podre à boca de cena.
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