8.4.19

Sentido proibido

Guardamos
na lombada do dia
o traço fino das nuvens
a baça lembrança
do porvir.

Há espadas gastas
na meada à espera de vez
e os artistas emudecem
na greve contra a febre 
das palavras.

As tochas ufanas
sublevam-se no copo mais alto
em prosa inflamada
por dentro das fogueiras que as 
ateiam.

Nos claustros
em doses razoáveis
a doçaria conventual rima
com os mendigos subtraídos
às ruas.

Não contam os verbetes rasurados
ou as estações de comboios abandonadas
na impressão venal dos cobradores
correndo até o fôlego se dissolver
dentro da tirania do vento irrecusável.

Pela noite
à hora do deitar
conto em sílabas
as palavras não ditas:
antes elas do que as palavras 
malditas.

Depois do inventário
ofereço-me aos sonhos sem paradeiro
a ossatura hibernada
na louca vertigem do insondável
em que amanhecem os sonhos.

Não saberei
se deles extraio matéria tangível
ou se prefiro o olvido
o propositado, exíguo olvido
para me não cegar com sonhos improváveis.

Hasteado numa bandeira sem rosto
exorto os cálices brandidos
a recusarem os sismos em que dançam
e resguardo-me nas ameias 
com o olhar humedecido
pelo vento montanhês.

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