Ouço o outono:
a chuva dança no telhado
e do mar vejo apenas uma silhueta.
As vozes agigantam-se
na embocadura da maré matinal
cantam estrofes sem ordem
e esperam
que seja servido o doce entoar das velas.
Não que seja aniversário:
as velas são dos navios em espera
sem saberem
quando se cansa o mar iracundo.
Entretanto
a manhã dissolveu-se nos preparos da tarde
e um cauteleiro cego apregoa a sorte
que, por madrasta ser,
não apadrinha ninguém.
Os pés das árvores observam,
indiferentes,
o voo rasante das andorinhas
a sua coreografia estouvada.
Ouço o outono
e não é um pranto o que o outono ordena
que seja chuva abundante
em tardes disfarçadas de melancolia.
É o seu fundo de maneio;
não vá a primavera
tomar o rosto do inverno.
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