28.3.19

As bocas foram feitas para o beijo

Pediste-me um beijo
e um beijo é dever direito
o bálsamo dos amantes.
Soube das palavras hasteadas ao vento
quando as bocas se tocaram
e de um golpe só
cuidaram da hibernação do restante.
Pois se de um beijo dependesse
era vida exultante nas costuras dos braços
uma embriaguez sem recaída
todo o sistema solar cabendo nas mãos
as vírgulas que pediam ainda mais água
uma estepe farta com pequenas flores púrpura
o horizonte desenhado pelas mãos uníssonas.
Um beijo.
Não é miragem enfadonha
nem palco com chão apodrecido
ou um verbete apagado em chama decaída
ou tributo que paga recompensas;
é a voragem contida na carne dos lábios
as línguas húmidas que se entrelaçam
os corpos 
que se entregam à dança em que são peritos
e a velocidade crescente
o foguetão solar que não sai das nossas mãos
e incendeia o rastilho que não espera.
E o beijo
matriz de tudo
incenso incalculável do prazer em espera
é epilogo que incuba o retiro final.
Mas o beijo
os beijos todos
os que o foram 
e os que esperam por seu tempo
são dom imaterial a que nos agarramos.
A nossa 
droga dura.

Sem comentários: