Diz-me
do fundo das palavras:
que é feito dos pesares
agora que a angústia está ausente
e da saudade sobra o império perdido?
Digo-te
com a possível simplicidade
que o castelo protege a memória vulnerável
contra os síndicos da comiseração
os cães danados que deitam o dente
assim que podem
os dandies que especulam sobre a estética
e mordem em arrevesadas investidas
no sol posto onde tudo se consome na carestia.
Dirias
que não te abates
no verso intemporal
nem cuidas das ciências sem método
ou de prolixos fazedores de farsas.
Dir-te-ei
caso seja caso para o dizer
que as manhãs são juízes corretas
e nem o nevoeiro é cortina bastante
no involuntário arquear das pálpebras gastas
desmentindo categóricos imperativos.
Disseste
em rima com a caudalosa trovoada
que não coincidimos com as varandas pueris
e das tardes soalheiras
resgatamos os corpos transidos
contra a indolência perfunctória.
E eu disse
sem qualquer objeção oferecida
que não deixamos pela metade
quando sabemos a inteireza das coisas.
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