O mistério que adoça o peito
é feito de flores nascentes
um perfume destinado aos deuses
a crisálida estonteante
hasteada nos dedos exultantes.
Não há de ser o sangue gutural
servido em veias vulcânicas
a separar a água do caudal;
a voz pinta a lua derradeira
e dos pássaros vem um canto fluido
o sucedâneo das palavras
as que teriam sido ditas
se o silêncio não fosse imperador.
À volta sente-se a presença de vultos.
Os corpos nus como floresta
os dedos entrançados como ramos metabólicos
os lábios que esperam beijos
de outros corpos nus.
Decidam-se os hesitantes rostos
decidam-se
enquanto há maresia:
desde a noite superada
arrastam-se cadáveres em forma de pesadelo
(ou pesadelos disfarçados de cadáveres)
e o contrabando de tudo
parece o epítome da autenticidade.
Nas loucas correrias que cortam a floresta
os cuidados esquecidos balizam
as armadilhas.
Não sei se será do labirinto
e das suas formas coesas,
o mistério para o ser exige ser mistério:
ou será que alguém se propõe
a decifrá-lo,
desfazendo o mistério do mistério?
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