Ao vigésimo segundo dia
o ato de contrição:
desarrumadas as ideias num gavetão rombo
espezinhava os estilhaços sobrantes
sem conseguir travar um esgar de dor.
Possuía os dedos enquistados
e o atavismo das flores caducas
soava alto
à boca de cena.
Tirava as medidas ao arrependimento.
Vestígios de um imenso nada
doíam nos olhos
assim marejadas no atraso das encomendas.
Um passe de magia
– em jeito de súplica sem destinatário,
como se fosse possível erradicar os erros
num golpe de asa que destruía o passado.
Talvez não quisesse a redenção.
Não sabia o que queria,
ao certo.
Estava já convencido a errar
pela maciez do tempo vindouro
quando notou numa centelha
a desfibrilhar a anemia dos sentidos.
Era a terceira noite sem dormir
e já não sabia
da fronteira entre lucidez e sonho:
agora era assaltado
por um feixe de imagens recorrentes
atropelando-se umas às outras
numa agonia impaciente
– um palimpsesto de sonhos
situado
num palimpsesto dominante.
Quatro caminhos agravados aos braços
e um grotesco pesar
alimentando-se da vetusta imagem do porvir.
Admitia não saber onde estava
uma dor lancinante tomando conta do peito
à espera da misericórdia
(ou de um golpe de misericórdia,
já não sabia).
Oxalá viesse
depressa
o vigésimo terceiro dia.