O dente de leão
já não morde.
O ocaso miscigena-se
na noite.
Os versos emprestam-se
a outra latitude.
O inquérito
procura respostas.
Há um odor a suspensão do tempo
enquanto os touros agradecem o caos
e os usos regressaram ao internato.
Ah!
Se ao menos os pontos de interrogação
não fossem facas desvairadamente espetadas
se a criação do tempo vindouro
não estivesse hipotecada às algemas
dos viciados nos costumes
se os verbos não fossem uma imagem puída
se os trota mundos
bebessem a seiva dos lugares
e não guardassem para si o fim da função;
se ao menos
o menos não fosse um modesto pecúlio
e do módico houvesse farta safra,
os lápis desenhavam os deslimites de tudo
e os sacerdotes compungidamente pesarosos
lamentariam
“os tempos foram à diferença
e nós não conhecemos esse molde”.
E o fim de tudo
não seria um fim em si mesmo
mas a exegese das almas infrequentadas
o tirocínio permanente
a dúvida finalmente metódica
e as palavras desembrulhadas
num creme de pasteleiro reinventado
para gáudio
dos eternamente crianças
dos que não se escondem
da matriz das interrogações em contínuo.