17.8.20

Pendente

O dente de leão

já não morde.

O ocaso miscigena-se

na noite.

Os versos emprestam-se

a outra latitude.

O inquérito

procura respostas.

Há um odor a suspensão do tempo

enquanto os touros agradecem o caos

e os usos regressaram ao internato.

Ah!

Se ao menos os pontos de interrogação

não fossem facas desvairadamente espetadas

se a criação do tempo vindouro

não estivesse hipotecada às algemas

dos viciados nos costumes

se os verbos não fossem uma imagem puída

se os trota mundos 

bebessem a seiva dos lugares 

e não guardassem para si o fim da função;

se ao menos

o menos não fosse um modesto pecúlio

e do módico houvesse farta safra,

os lápis desenhavam os deslimites de tudo

e os sacerdotes compungidamente pesarosos

lamentariam

“os tempos foram à diferença

e nós não conhecemos esse molde”.

E o fim de tudo

não seria um fim em si mesmo

mas a exegese das almas infrequentadas

o tirocínio permanente

a dúvida finalmente metódica

e as palavras desembrulhadas 

num creme de pasteleiro reinventado

para gáudio

dos eternamente crianças

dos que não se escondem 

da matriz das interrogações em contínuo.

 

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