9.5.22

Descaça

Os fósforos mostravam a cor 

a um céu plúmbeo. 

Vozes ciciadas

esconjuravam o Inverno, 

como se as pessoas 

estivessem cansadas de auroras boreais 

e de campos tingidos por neve. 

A paisagem caiada de branco 

era tão cansativa 

como a oratória minimal-repetitiva 

dos camaradas do comité central 

(que ainda sonham com o politburo). 

Os fósforos

ateavam a claridade 

onde se amontoavam as divergências. 

Por fora das janelas,

uma multidão exultava 

com a diversidade. 

Ninguém emudecia vozes 

contra a vontade das próprias. 

Como pano de fundo,

uma música levemente folk. 

As cordas repuxadas dos reposteiros 

inclinando a claridade para dentro da casa. 

Os livros nas estantes 

recebiam a claridade com equanimidade. 

Os livros estavam à espera 

de vozes que fossem suas. 

Não bolçavam estultícia, 

que tantas páginas proibiam a estultícia. 

Se as provações fossem entrada na equação, 

os profetas das contradições de termos

teriam direito constitucional ao silêncio 

(forçado).

A linhagem é outra. 

Sempre fomos razoáveis 

a ofertar a metade do rosto não torturada. 

Não chamem a polícia dos costumes. 

Não clamem

por uma contradição de termos elevada ao quadrado. 

Se ainda não perdemos a peugada da liberdade, 

sabemos de que lado ficar.

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