12.5.22

Lobotomia

As pedras que se arrastam

escondidas sob a boca

sobem ao teto baço da tarde

enquanto o tempo foge

com vagar

adulterando as sílabas conspiradas.

 

Lá fora há gente que passa.

Indiferente

terçando a mesma indiferença

que fora véspera minha.

 

Os toros de madeira alinhados

pressagiam o inverno

ou coutadas de predadores mal tecidos

antes de arrancarem para as serranias

em temporadas de atavismo cercado.

 

A trela do remoçado canto

continua apertada.

À vez

mastins e presas trocam créditos

e ensinam os alinhavos do armistício.

Em vez de linguagem,

onomatopeias céleres e distintas,

um truísmo de cores coléricas,

preenchem as páginas onde reside a fala.

 

À vez

sem saberem por mote próprio

dos deslimites da loucura 

– das fragas de onde se despenha 

a alucinação grupal – 

emprestam seus corpos frágeis

ao fogo em que se incensam.

 

Tarde de mais

deram conta do ocorrido.

 

Já não vão a tempo

de olhar por si

como lobos de si mesmos.

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