Se a alma não me esquece
neste tribunal de especial instância
em que minha pária condição se atesta
hei de ser credor de absolvição?
Se da alma não esqueço
cumprem-se mil costumeiros arrependimentos
antes que seja intentada a indulgência máxima
no fojo ermo onde se move a medula sísmica.
Se não for intencional o exílio da alma
hei de povoar a herança
com o nefasto odor a vazio
decretado por vultos eminentes
nos corredores de um labirinto medonho.
Se a alma não se sublevar
peticionando o irremediável meu estatuto
hei de ser suprimido do inventário geral
dissolvido na chuva ácida
do olvido.
Se à alma não disser adeus
serei
– quem sabe? –
pirata de mim mesmo
tarefeiro sem serventia
um coloquial abstinente das matérias ingentes
apenas
magma sem fundo
engenheiro sem matemática sistemática
errante
errante como me dispus
neste tabuleiro pútrido
onde têm cabimento os sequazes
os diligentes patriarcas do princípio geral da farsa
com olhos disfarçados
pele mumificada
e sua, essa alma,
sua
a alma que sua a improfícua cacofonia
de quem muito diz e pouco faz.
Nestes termos
me declaro
apátrida de alma.
Sem comentários:
Enviar um comentário