17.1.23

Terra queimada

As costas das mãos

passeiam-se pelas vírgulas,

depostas em lugares ermos

como se fossem

as árvores distantes que ensinam

a gramática da vida

um torpedo desarmado

vocação diligente em ábacos erodidos.

Alguém diz

de uma paisagem em passagem

no disforme lugar do comboio

à janela:

esta 

é a terra queimada

o torpor que desarma a vontade

uma tela áspera

onde os verbos se trocam por luares

e as velhas não insistem na viuvez.

Mas esta 

não é 

afinal

a terra queimada:

é um gotejar insistente à boca da manhã

promessa sem notário ou procurador

a aldeia com cheiro a lareira

ou o tojo cansado de tanta geada

inerte

a pedir

uma terra alagadiça.

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