O xisto debruado na boca
ajeita as palavras
parecem:
estrofes;
ou um candeeiro todavia fundido
à espera de vez
no fundo do mar
sem lá ter sido encontrado
por naufrágio.
A boca naufraga
trémula
desajeitada
diz umas palavras desastradas
antes que na noite decrete
o silêncio
e os ardinas da luminescência arvorem
o princípio geral do universo
e a sua incontestabilidade.
Os rebeldes sobem à cena
tomando conta da noite
prometendo demoras
e algum vinho
jurando oposição às incontestáveis coisas
assim encenadas.
As vozes disfarçadas de colibri
coonestam os penhascos que vomitam água
mesmo no auge do cachão
e em baixo o tremor contínuo
ensurdecedor
embacia as falas que ousam.
É melhor assim
(alvitra o visitante)
o silêncio traduz a melhor fala.
E pensou
o que seria de um corpo em queda livre
sem arnês
à mercê do turbilhão tempestuoso
o que seria do corpo se não fosse despedaçado.
Um pouco à frente
mesmo depois da fina bruma
dissipada num arco-íris
o leito amansa numa lagoa que se alarga
e as margens pedem cais
para os destroços do cachão.
Mumificado
o musgo-testemunha
empresta um lugar acetinado aos visitantes.
Entardece.
enquanto o silvo das aves tardias
se mistura com o rumor já distante do cachão.
A boca insiste em palavras metálicas
como se fosse preciso desenjoar
e um dia aprazível estivesse adulterado
pelo cansaço dos excessos.
As vozes tardias
as que foram paridas para desmanchar prazeres
começam a arrastar o oxigénio
para a falésia onde está o sono.
Tiraram a vez
aos demónios que esbracejam a farda
enquanto juram acertar contas com o futuro.