17.5.23

Aposta

As vidas todas 

outra vez. 

 

O nevoeiro em erupção

a manhã sem sentinela

de vez. 

 

O colibri imerso na tarde

subindo às costas do vento

de cada vez. 

 

O troco do oráculo

sem troça das mãos

mal seja a vez. 

 

A meda da fala

desembaraçada do silêncio

sem vez. 

 

O obstinado pesar

culpando o dia de sombras

com vez. 

 

A granada embainhada

e o peso gracioso da cortina puída

à vez. 

 

As flores expropriadas de odor

sobre aviões amortalhados

talvez. 

 

O poema embarcado

empresta sal ao angustiado mar

só desta vez. 

 

A sina que procura orfandade

no vagar do entardecer sincopado

em que seja vez. 

 

O sonho afeiçoado na tempestade

colhendo as pétalas maduras

uma vez. 

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