22.5.23

Às velas

As velas

ardem a angústia

incendeiam os dias por haver.

Exilados

damos as mãos às árvores

e lemos no mar a mare de outrora

o esquecimento armadilhado.

Somos as velas

o mar, os nossos corpos

e deste fogo amamentamos tempestades.

No conhecimento do belo

que não se intimida com as palavras

não fica refém das indulgências

amordaçado nas lágrimas vertigem.

Pelas velas

aquecemos os corpos

no império da noite fria

e no sangue combustível

sermos escultores do dia sem prazo.

Aquecemos as mortalhas que embaciam a nudez.

Aquecemos as estrofes que sobem à boca 

e no miradouro da manhã

tecemos as profecias derrotadas

o véu único que nos cobre

e reserva a nudez

para nós.

E nós

com as velas que tremeluzem

sob o saque de um luar colonizador

dizemos ao vinho de que somos feitos

estas armaduras tão frágeis

estilhaços que fortalecem os corpos.

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