Adivinhei o estado comatoso
à volta do adro voejavam abutres disfarçados
e o oriente devolvia o sol
ainda infante
ainda assembleia dos desejos.
As ruas apinhadas de silêncio
fingiam as vozes suadas
fingiam
que sabiam ver debaixo das pálpebras
e as pedras guturais que segredavam os rumores
desatendiam as preces embaixadoras.
Os corpos
eram atirados para a falésia
mas voavam
tão leves
que se acreditava que era intencional.
Os gatos lutavam pelo lugar
houvesse uma gata que fosse para disputar
e antes que os preclaros se abespinhem
diga-se
que os gatos não leem os gurus de amanhã
nem vão às manifestações participativas.
(Porventura
propor-se-á
numa bem-aventura assembleia
a destituição da natureza
ou a sindicalização
das gatas.)
O cio dos gatos é indiferente
e os varões pendidos na madurez invejam
tão profilático desejo
toda a carnalidade sem o véu dos costumes.
A usura
a maldita usura
levar-nos-á à decadência
e depois
à extinção.
(A menos que as assembleias participativas
se substituam à usura
e, salvíficas,
decretem que tudo o que se opõe
à desmaterialização
está condenado à proibição.)
A encenação não conta,
adverte o pai na direção da filha
e ela
insistindo no descomportamento
mostra a língua e duas caretas
às meretrizes que se mercam
na rua feita montra.
Ah, se ao menos o mundo não tivesse arestas
e as chaves não fossem segredos
as bocas diziam os nomes ao acaso
e já ninguém participava no medo;
se as cortinas se mantivessem subidas
e já não houvesse clareiras por recusar
as fogueiras não se extinguiam
nem à força de chuvas estrénuas.
Esgotado o tempo
já não se sabe se ele se gastou
ou se atirou contra
os que dele são párias.