As facas em descanso
deixam a pele na letargia
os acasos justapostos pelo ocaso da memória
e nada se credita à devoção
o amor tem os braços de um polvo
para não fugir nos interstícios do sono.
Esta é a matéria válida
o desassombro
das vozes que murmuram o paladar da alma
desarrumando os conspiradores
os que erguem
insatisfatoriamente
barragens elefantes brancos
e mesmo assim o caudal abraça-se
ao rio restante.
Tatuada a astúcia em forma de verbo
o corpo é um santuário à prova de derrotas
sem haver
quem o consiga desfeitear.
Podem ser medonhas as ondas
temível a lava de todos os vulcões por junto
podem todos os olhares açambarcar a tirania
deixando-a (ó pobretanas) refém da fragilidade
podem os gongóricos ser reduzidos a migalhas
e os pederastas da estultícia desfilar
na passerelle
ostentando a sua indigência
podem os deuses,
adormecidos,
esquecer-se da bondade
que os padrinhos seculares
descombinam do olvido
derruídos pelo esplendoroso labirinto
onde se terçam as solenes proclamações
o desejo que torna árida a aridez
e devolve ao avesso à fazenda legítima.
Os cabelos
cavalgam o dorso das ondas
dir-se-ia
amaciam o horizonte atrás delas deitado
como se o outro lado do mar
estivesse à distância de duas braçadas.
Que ninguém proteste a impossibilidade.
O seu antídoto
é a vontade arrematada
contra a indulgência
que se disfarça de medo.
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