Que sabemos
da árvore noturna
dos humores que fabricam o orvalho
da matéria-prima de que é feito o sangue
dos inviáveis dias
que se arrumam no dicionário?
Toda a água contida no rio
desfaz-se num mar totalitário
e digo
que não há maior gesto democrático.
Se estamos à mercê da contingência
se só sabemos que do outro lado da página
medra a luz crepuscular
de que serve sermos arquitetos do porvir
se depois acabamos engenheiros
a fazer o levantamento dos destroços
e repor o que do passado puder ser salvo?
Não aprendemos com o futuro
e ficamos à espera da fala do passado.
É essa a nossa tragédia comum.
Um lampejo de vozes exaustas
a pele que se gasta com o reviver
e o sangue em banho-maria
sempre à espera
do próximo apeadeiro.
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