2.7.23

Vassalagem

Deste dar à corda,

a roda dentada que porfia

nos dias seguidos

a visionária sabedoria de viver. 

Os tribunais andam distraídos

e as ruas incendeiam-se 

com as vozes cansadas

em motins de despensamento. 

As manhãs são como úberes.

As vozes ainda em murmúrio

com medo de se revelarem

estremunhadas

expiam os pressentimentos 

cifrados nos pesadelos. 

De cada vez que chove

deito as mãos para sentir as gotas

acolho a chuva no cabelo desprotegido

e vejo

em cada gota que entardece em meu rosto

um oráculo que se escreve a tinta-da-china. 

De cada vez que chove

sou eu

essa precipitação ousada

vertida sobre o adro sem curadoria. 

Sem comentários: