15.9.23

A corda do basalto

O basalto contorce-se com o suor da noite.

Desprende-se das faúlhas e povoa o vinhedo

e as pessoas

ao longe

confiam no desespero

atestam o desespero:

já pressentem as vozes periciais

já as pressentem

a atirar a semente do remanso póstumo:

o basalto 

será o rosto físico 

de um vulcão cansado

entretanto adormecido

e, arrefecido,

receberá em seus poros a quimera depois:

as sementeiras serão consagradas

num parapeito inóspito do mundo

onde as lágrimas se converteram em suor físico.

Tempos depois

já a lava ficara esquecida entre as folhas frondosas

os pecados ficaram por arrematar

(segundo os pobres anciãos

reféns do paganismo ancestral:

o vulcão tirado ao sono

é a vingança dos deuses enfurecidos):

a ira dos deuses sem nome conhecido

escolheu aquele lugar

a paisagem acrisolada nos novelos de basalto

nos cachos de lava tornada pedra

entre dentes de leão e acácias

entre os bagos das uvas milagrosas

e o vinho repatriado das balsas da lava estática.

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