13.9.23

Como aprender a ser algoz em cinco lições

Numa correria

como se tudo estivesse

em vias de extinção

e quase só sobrassem

memórias do futuro

não sabemos

se somos nós a passar 

supersonicamente

pelos acontecimentos

ou se é o tempo às talhadas

impronunciável e ascético

que nos condena à matriz da irrelevância. 

 

Confundimos tempo e modo

e por tanto sermos a esquadria de uma forma 

numa anestesia total dos sentidos

esquecemos das desconvenções

a fala arquétipo que condensa a maturidade. 

Esquecemos 

há um ser em nós

que não se resume a um eu

esse eu é uma fortuna sem valor

esquecido por nós 

arrematado num leilão de inconveniências. 

 

Os rios emagrecidos açambarcam o olhar

desfazem-se no mar que os coloniza

como se fosse uma clepsidra que anula a luz. 

 

Sabemos o que não sabemos

tanta a perícia costurada 

na reivindicação do fogo 

que acende o pensamento. 

Não sabemos

do caudal do tempo

esgotado no esquecimento;

não sabemos

da nitidez das silhuetas

que oferecem redenção;

só sabemos

desnatar os ossos

calar a fala funda

obliterar o desassossego 

– para sermos matéria domada

olhos pacientemente vendados

carne puída arrancada aos palcos amotinados

sitiados pelo torpor

ingénuas vítimas do despensar voluntário

nós,

os nossos maiores algozes.

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