20.9.23

Congruência

Percebes a luz inaugural que desmata o dia. 

O refúgio prometido aloja-se no silêncio

o silêncio por enquanto. 

Ouves 

o bramido das folhas acorrentadas ao vento

o leve ciciar do vento

que desassossega já o porvir próximo. 

Sentes-te como as raízes das árvores 

– não há nada que cause uma razia

e a razão dirá se se compõe em teu tesouro. 

Ao longe

onde o horizonte põe termo ao olhar

levanta-se um leve torpor

como se o mar estivesse vigilante

o viável fundamento que aconselha. 

Os contratempos arrumam-se na fila de espera. 

Sem se darem à visibilidade

pondo os cotovelos em cima da mesa

fruindo a angústia de quem sabe

o que é uma rasteira dada por um contratempo. 

Desvias o olhar

empurras o horizonte 

inventas as tuas próprias impossibilidades. 

Um esboço de luz espreita pelas mãos

deixas o papel deitado no estirador

e adormeces a alma

sufragada pelo sonho que entreteces. 

Às vezes

os domínios que ocupas remoçam

emprestam ao dia um dia inteiro

sem recusar a sublevação dos ossos

apátrida

generoso. 

Se pudesse ser

fazias um poema 

na tela que espera as aguarelas. 

Encurralavas os dentes furtivos da noite

para fingires a solidão

para fugires das multidões. 

Não foges de ti. 

Toma-lo como compensação 

contra os solavancos

o autêntico terramoto

que fragiliza a imensidão do mar 

em que habitas.

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