Percebes a luz inaugural que desmata o dia.
O refúgio prometido aloja-se no silêncio
o silêncio por enquanto.
Ouves
o bramido das folhas acorrentadas ao vento
o leve ciciar do vento
que desassossega já o porvir próximo.
Sentes-te como as raízes das árvores
– não há nada que cause uma razia
e a razão dirá se se compõe em teu tesouro.
Ao longe
onde o horizonte põe termo ao olhar
levanta-se um leve torpor
como se o mar estivesse vigilante
o viável fundamento que aconselha.
Os contratempos arrumam-se na fila de espera.
Sem se darem à visibilidade
pondo os cotovelos em cima da mesa
fruindo a angústia de quem sabe
o que é uma rasteira dada por um contratempo.
Desvias o olhar
empurras o horizonte
inventas as tuas próprias impossibilidades.
Um esboço de luz espreita pelas mãos
deixas o papel deitado no estirador
e adormeces a alma
sufragada pelo sonho que entreteces.
Às vezes
os domínios que ocupas remoçam
emprestam ao dia um dia inteiro
sem recusar a sublevação dos ossos
apátrida
generoso.
Se pudesse ser
fazias um poema
na tela que espera as aguarelas.
Encurralavas os dentes furtivos da noite
para fingires a solidão
para fugires das multidões.
Não foges de ti.
Toma-lo como compensação
contra os solavancos
o autêntico terramoto
que fragiliza a imensidão do mar
em que habitas.
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