Digo ao poente
a corda lassa que hasteia o dia.
Convoco as ameias
forjadas a ferro e lágrimas.
Deito-lhes cal colhida na sombra noturna.
Dizem-me que a tortura maior
é o terrorismo ao idioma
e eu começo a parábola inteira
no início do parágrafo
esplêndida
vestida de ouro arrancado às entranhas
pelas mãos próprias
o punhal demitido no parapeito das mentiras.
Desarrumo o dia inteiro
o beijo crepuscular anotado na fazenda adiada.
Embainhado o rosto
que não dança com o nome
levito as sílabas
enquanto o tempo não se faz tempo
um copo desfalcado abraçado aos dedos
treme para não serem tremidos os dedos.
A sociedade comercial dos desafortunados
insiste na desafortunada apanha de dias
está para o sol como as nuvens para o Inverno
e esse é o seu reconhecido inferno.
Não me digam como é o esquecimento.
Sou a fábrica
onde os dias se ocupam do desmedo
um artesão que bebe as vírgulas
que sobem a palco
e de jato
atira o material sobrante para a sucata
onde os sentidos retificados são.
Povoo as cidades acasteladas
os ermos lugares
onde os animais são suseranos
a venda entrapando o olhar ébrio
que se dá ao dia para se saciar.
O palavrear desenfreado desautoriza a letargia
como os gatos famintos
que seguem os cuidadores
cobrando às bandeiras o futuro que não querem
simples oráculos
que desaprovam as estrofes mundanas.
Dizem que é preciso um arquiteto geral
o intendente das boas causas
antes que uma catástrofe inteira
amotine esta terra.
Enquanto não aprenderem o significado de não
talvez se salvem no palco
onde se refina o fingimento.
Sob as pedras falsamente furtivas
as serpentes dormem.
Dizemos “xiu”
para ninguém demitir o silêncio.
Dizemos que muitas foram as horas gastas
só a contar as horas passantes
como se na véspera
ousassem os cantos errantes
nas vozes alardeadas no viço da manhã.
Ao menos
respiro
e sei que sou tutor
da matéria incompleta de que sou feito
e sento-me à sombra da voz quimérica
só para saber o sabor da indiferença.