Não digas nada à escolástica
os segredos só contam
se não tiverem avesso
e de nós há de constar
nos manuais do passado
que fingimos heresias
só para termos direito
a indulgências.
Não digas
mesmo nada
nada
às santas alistadas no halo do tempo
guardemos todas as mentiras
as que reservamos para as entrelinhas
e as outras
piedosas
que pouparam sobressaltos
a exércitos de gente.
Diremos
façam como os avestruzes
olhem para dentro de um poço
fundo
mesmo lá no fundo
onde as trevas escondem despojos.
Dir-lhes-emos
sejam o avesso do que julgam ser
para assim chegarem
ao compassado, espontâneo eu,
lembrem-se da irresolvida pendência
de uma mentira contada à mentira
e de como os notáveis divergem
em tê-la como mentira ao quadrado
ou anulação da mentira primeva.
Juntemos
as angústias que passam gratuitas
de corpo em corpo
as maleitas sem cura
que desenfeitam os cidadãos em grupo
a contrafação registada
a morosidade dos sonhos empenhados
as atribulações
maquinadas pelos deuses sem túmulo
e não nos deixemos à mercê de acasos
não sejamos a porta de entrada
de ventos contaminados
ou a persiana desbotada por entra
o sol desmaiado.
Dá última vez que demos conta
as horas vinham com atraso
e deixamos de saber
se os mapas eram adulterados
e nós
todavia
imunes à orfandade por falta de astrolábio
assim redimidos
no esconderijos a que demos a pele.
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