28.11.24

Manifesto a favor dos dias visíveis e da esquadria sem arestas

Não digas nada à escolástica

os segredos só contam

se não tiverem avesso

e de nós há de constar

nos manuais do passado

que fingimos heresias

só para termos direito

a indulgências. 

 

Não digas

mesmo nada

nada

às santas alistadas no halo do tempo

guardemos todas as mentiras

as que reservamos para as entrelinhas

e as outras

piedosas

que pouparam sobressaltos 

a exércitos de gente. 

 

Diremos

façam como os avestruzes

olhem para dentro de um poço

fundo

mesmo lá no fundo

onde as trevas escondem despojos. 

 

Dir-lhes-emos

sejam o avesso do que julgam ser

para assim chegarem

ao compassado, espontâneo eu,

lembrem-se da irresolvida pendência

de uma mentira contada à mentira

e de como os notáveis divergem

em tê-la como mentira ao quadrado

ou anulação da mentira primeva. 

 

Juntemos

as angústias que passam gratuitas 

de corpo em corpo

as maleitas sem cura 

que desenfeitam os cidadãos em grupo

a contrafação registada

a morosidade dos sonhos empenhados

as atribulações 

maquinadas pelos deuses sem túmulo

e não nos deixemos à mercê de acasos

não sejamos a porta de entrada 

de ventos contaminados

ou a persiana desbotada por entra 

o sol desmaiado. 

 

Dá última vez que demos conta

as horas vinham com atraso 

e deixamos de saber 

se os mapas eram adulterados

e nós

todavia

imunes à orfandade por falta de astrolábio

assim redimidos

no esconderijos a que demos a pele. 

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