O notário das coisas arriscadas
convocou para a mesa os procuradores bastantes
e não se ouviu um ciciar enquanto esperavam,
a par da gravidade da ocasião.
Num canto da sala
aliviando o ar pesado da circunstância
um síndico tossicava
intercalando o incómodo com um sorriso louco.
Quiseram extraí-lo da sala
por impreparação para a solenidade
e desrespeito dos pactos firmados
com o sangue da sociedade.
Saiu.
Aliviado.
Com as más orações que fizera
o edifício estaria para desabar
mal ele soltasse a voz cavernosa
e um sismo arrancasse o arranha-céus pela raiz.
Os adoradores de apocalipses aplaudiram de pé.
Nos escombros
a fina nata dos mandantes
que têm o mundo na mão.
O mundo aguentaria esta orfandade sísmica.
Deus,
o tal que não existe,
não anda tão distraído
e também anotou a maldade dos histriões
que aplaudiram a catástrofe.
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