13.11.24

As berças desimundas

O notário das coisas arriscadas

convocou para a mesa os procuradores bastantes

e não se ouviu um ciciar enquanto esperavam,

a par da gravidade da ocasião.

Num canto da sala

aliviando o ar pesado da circunstância

um síndico tossicava

intercalando o incómodo com um sorriso louco.

Quiseram extraí-lo da sala

por impreparação para a solenidade

e desrespeito dos pactos firmados 

com o sangue da sociedade.

Saiu.

Aliviado.

Com as más orações que fizera

o edifício estaria para desabar

mal ele soltasse a voz cavernosa

e um sismo arrancasse o arranha-céus pela raiz.

Os adoradores de apocalipses aplaudiram de pé.

Nos escombros

a fina nata dos mandantes 

que têm o mundo na mão.

O mundo aguentaria esta orfandade sísmica.

Deus,

o tal que não existe,

não anda tão distraído

e também anotou a maldade dos histriões 

que aplaudiram a catástrofe.

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