5.11.24

A porta arrombada

O largo ensejo de parecer estátua

devolve ao aço fundido a vontade anestesiada. 

Por fora dos pesares

onde os verbos da angústia foram destronados

só a névoa estremunhada 

que não atraiçoa as palavras. 

E se os dedos trémulos os versos não curarem

atirem-se os medos ao pelotão de fuzilamento

encardidos pelos vetustos embaixadores 

que falam com a cara do avesso. 

Sortes as várias noites sem ouvir o vento

e no pecúlio dos sonhos

em matéria incandescente

as folhas caídas 

no inventário das imagens colhidas

em vez da metamorfose à força

em vez 

do desamparo a caminho da solidão. 

Arrumadas as intransigências

ao ouvido soam tiranas que colonizam as mãos

ou as mães que partiram sem saírem do lugar

mas da sua ausência sobram cinzas avulsas

espalhadas pelo chão paredes-meias 

com as folhas vertidas pelo Outono. 

Ao demais

sufrago as armas depostas

a fidúcia toda empenhada no sangue 

que ensina as veias

o martelo pneumático 

que semeia o ruído mecânico

em quem 

com as costas viradas do avesso

no absurdo equívoco 

desafia os mastins generosamente armados. 

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