As máscaras
caem como neve fundente
sobre homens feitos estátuas.
As máscaras
quando não fogem da mentira
sussurram memórias provectas
um mar insidioso de disfarces
pois essa é a serventia das máscaras.
Antes que venham os ontem
cair no estuário
e que viúvos sem paradeiro
esbracejem o frio tentacular
o gelo deita-se entre as rugas
à espera
que tudo seja um ontem sem janela.
Encomendam-se as falas imprevistas
para passarem a ser previstas:
os homens não são feitos de fogo
e entre as labaredas herdadas
situa-se
um promontório em forma de sonho
a boca havida no friso da noite
a portentosa solidão que ficou só
amanhã
com as lombadas viradas do avesso
a biblioteca nómada que se faz festim
a cada lua que passa entre a chuva diuturna.
Dizem:
os poetas são funcionários sem hierarquia
amotinados se tiverem regras
nómadas
fugindo dos estreitos labirintos
onde a palavra se diminui
no lugar-comum.
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