No ciciar da voz
escondem-se os versos embotados.
As batas escuras
atravessam o deserto
sob o sol punitivo
os olhos amarelecidos
como se estivessem colonizados.
Discorrem as páginas divididas
um escafandro depois do dia vindicado
para às mãos erradas não termos entrega
salvam-nos as mães renascidas.
O óbito do pudor
encena-se na câmara de espelhos
na geografia onde mandam os labirintos
os cantos válidos que se combinam
nas bocas que não cedem ao desânimo.
A lua está talvez povoada:
dizem
que os sonhos têm lá procuração
e no vivo atilho que aformoseia os rostos
se vê projetada a chama do luar
um lugar sem nome
que chama pelas árvores.
Do amanhã não se enfeitam os lábios
nem esperam que seja em bancos gastos
pela ordem do dia
– como se o dia desse ordens
e uns capatazes resgatados à indigência
vigiassem as ruas todas
as esquinas todas
o dicionário todo
de A a Z.
À porta
o poema cavalga
as rédeas sobranceiras aos despojos matinais
e as vozes que se existam no gradeamento
expulsam vultos tiranetes
senhoras e juízas da atalaia maior.
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