7.11.24

Alfa

No ciciar da voz

escondem-se os versos embotados. 

 

As batas escuras

atravessam o deserto 

sob o sol punitivo

os olhos amarelecidos 

como se estivessem colonizados. 

 

Discorrem as páginas divididas

um escafandro depois do dia vindicado

para às mãos erradas não termos entrega

salvam-nos as mães renascidas. 

 

O óbito do pudor

encena-se na câmara de espelhos

na geografia onde mandam os labirintos

os cantos válidos que se combinam

nas bocas que não cedem ao desânimo. 

 

A lua está talvez povoada:

dizem 

que os sonhos têm lá procuração

e no vivo atilho que aformoseia os rostos

se vê projetada a chama do luar

um lugar sem nome 

que chama pelas árvores. 

 

Do amanhã não se enfeitam os lábios 

nem esperam que seja em bancos gastos

pela ordem do dia 

– como se o dia desse ordens 

e uns capatazes resgatados à indigência

vigiassem as ruas todas

as esquinas todas

o dicionário todo

de A a Z. 

 

À porta

o poema cavalga

as rédeas sobranceiras aos despojos matinais

e as vozes que se existam no gradeamento

expulsam vultos tiranetes

senhoras e juízas da atalaia maior. 

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