26.11.24

Candidatura ao império

Rasgo o luar pendente

as mãos diligentes arquitetas

arrastam o aluvião sem freio. 

Se da maré baixa protestar

seja credor de indulgência;

 

os pesadelos assombram os dias;

 

em matéria de ausências

levo uma cátedra inteira

cheia de trunfos

cheia

do despudor de quem obedece

à errância. 

 

Os que sabotam a boa fé

dormem como os anjos

metodicamente emparedados

entre 

a farsa ostensiva e a agressão da inteligência. 

Os rostos impassíveis viram as cartas

suam o bluff tardio

recuando nas intenções deslumbrantes

de outrora. 

 

Se há rua que atravesso

é essa que precisa de pontes

encostada na ombreira do estuário

que apronta uma hora sempre tardia. 

Parece que chegamos atrasados

Estamos

sempre

atrasados

como se os relógios ficassem para trás

para não ficarmos no leilão da solidão. 

 

Escrevam-se as estrofes imprevistas

versos que estimam a mão vagarosa 

à espera dos formulários

a mão burocrática

que não sabe desmentir a razão. 

É esta espécie de natação

mesmo à míngua de água

que faz nascer a sede perene

os braços que apertam as almas colossais

e assim se tornam ainda mais colossais

logo que desfaçam 

o enigma do seu paradeiro.

 

As páginas 

passam à cadência

de um comboio dezanovecentista

só falta o fumo denso 

que dantes matava precocemente 

os maquinistas. 

 

Só falta um piano de cauda

os dedos que massajam as teclas

na carestia de um olhar pungente

como se o poema se levantasse do piano

e atravessasse todos os fusos horários

com a impressão de um instante. 

Ficam por decifrar

as bandeiras que dão cor ao vento

as sílabas entoadas com o vagar do destempo

o remédio para a ira desvendada 

na convulsão do sangue que se perdeu

no labirinto que esconde 

as mudanças.

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