Rasgo o luar pendente
as mãos diligentes arquitetas
arrastam o aluvião sem freio.
Se da maré baixa protestar
seja credor de indulgência;
os pesadelos assombram os dias;
em matéria de ausências
levo uma cátedra inteira
cheia de trunfos
cheia
do despudor de quem obedece
à errância.
Os que sabotam a boa fé
dormem como os anjos
metodicamente emparedados
entre
a farsa ostensiva e a agressão da inteligência.
Os rostos impassíveis viram as cartas
suam o bluff tardio
recuando nas intenções deslumbrantes
de outrora.
Se há rua que atravesso
é essa que precisa de pontes
encostada na ombreira do estuário
que apronta uma hora sempre tardia.
Parece que chegamos atrasados
Estamos
sempre
atrasados
como se os relógios ficassem para trás
para não ficarmos no leilão da solidão.
Escrevam-se as estrofes imprevistas
versos que estimam a mão vagarosa
à espera dos formulários
a mão burocrática
que não sabe desmentir a razão.
É esta espécie de natação
mesmo à míngua de água
que faz nascer a sede perene
os braços que apertam as almas colossais
e assim se tornam ainda mais colossais
logo que desfaçam
o enigma do seu paradeiro.
As páginas
passam à cadência
de um comboio dezanovecentista
só falta o fumo denso
que dantes matava precocemente
os maquinistas.
Só falta um piano de cauda
os dedos que massajam as teclas
na carestia de um olhar pungente
como se o poema se levantasse do piano
e atravessasse todos os fusos horários
com a impressão de um instante.
Ficam por decifrar
as bandeiras que dão cor ao vento
as sílabas entoadas com o vagar do destempo
o remédio para a ira desvendada
na convulsão do sangue que se perdeu
no labirinto que esconde
as mudanças.
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