Sobre a carne viva
um mar inteiro deposto
o cofre sem paradeiro
sílabas deitadas ao acaso.
Profetas credenciados expõem teses,
são sobre inevitavelmente o futuro
e o sal do mar arrematado
embacia as tábuas oraculares
à medida que as cicatrizes
tatuam a carne outrora
viva.
Os dedos fervem as uvas
à espera que cantem;
à espera:
que sejam rivais das profecias
pelo meio de jardins desleixados
e ardinas sem voz para pregões.
Lá fora
o vento murmura (qualquer coisa)
como se fosse ele a tocar a rebate
pois os sinos estavam em greve;
a madurez da pele estende-se aos relógios
competem a ver quem anda mais depressa
e as tochas devolvem uma luz fátua,
o elixir capaz de remediar
os gritos sem rosto.
Há gente no baldio depois do rio
erram na margem
o olhar a perder-se da sua órbita
parece que estão à espera do anoitecer
para saquearem, às escondidas,
almas distraídas
e depois as empenharem
aos desalmados sem redenção.
É tanta a carne viva
tanta a soletrar palavras inteiras
que a morte
deixou de ser negócio próspero.
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