9.2.24

“Core business”

Sobre a carne viva

um mar inteiro deposto

o cofre sem paradeiro

sílabas deitadas ao acaso. 

Profetas credenciados expõem teses,

são sobre inevitavelmente o futuro

e o sal do mar arrematado

embacia as tábuas oraculares

à medida que as cicatrizes 

tatuam a carne outrora 

viva. 

Os dedos fervem as uvas

à espera que cantem;

à espera:

que sejam rivais das profecias

pelo meio de jardins desleixados

e ardinas sem voz para pregões. 

Lá fora

o vento murmura (qualquer coisa)

como se fosse ele a tocar a rebate

pois os sinos estavam em greve;

a madurez da pele estende-se aos relógios

competem a ver quem anda mais depressa

e as tochas devolvem uma luz fátua,

o elixir capaz de remediar 

os gritos sem rosto. 

Há gente no baldio depois do rio

erram na margem

o olhar a perder-se da sua órbita

parece que estão à espera do anoitecer

para saquearem, às escondidas,

almas distraídas

e depois as empenharem

aos desalmados sem redenção. 

É tanta a carne viva

tanta a soletrar palavras inteiras

que a morte 

deixou de ser negócio próspero.

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