Os veios atravessam a superfície do
vidro.
Do agora vidro raiado.
Não chegou a ficar em escombros,
o vidro,
apenas sobrou um espelho estilhaçado
já sem a cintilação de antes
já sem a serventia que teve.
Os estilhaços decantam o olhar:
julgava-se que o embaciassem
a superfície arrombada pelos veios
tentaculares;
ao contrário
os estilhaços devolvem a imagem retorcida
do que um (falso) espelho diria translúcido.
Em contraponto com a maré
o vidro estilhaçado mostra a claridade de
tudo.
Já nada é embuste
já nada se encobre num simulacro capaz
já tudo se revela matéria transparente.
Por vezes há rombos argutos.
E, por vezes,
derramadas as lágrimas necessárias
em depurações que abraçam as (enfim)
cristalinas coisas.
Não tem préstimo a consolação da sorte
madrasta.
Não têm préstimo vidros resplandecentes
ocultando a podridão das coisas.
A ser assim,
antes os vidros estilhaçados
a tonalidade das coisas sem máscara.
Pois nos vidros estilhaçados
não se ferem os olhos penhorados
por uma penumbra promissora.
As quimeras
não são fiadoras da alma soerguida.