Esboço
um bocejo
enquanto
dedilho as folhas brancas
sentadas
no meu colo.
Sinto
no
regaço indolente
um
vitral que irradia um pesar
insubmisso.
Nos
contrafortes do entardecer
enquanto
as pessoas correm para casa
esgueiro-me
ao lugar onde o mar
se
aquieta nas molhadas areias.
Respiro,
o mais fundo que sei.
Não
dou nada de mim ao mar madraço
nem
convoco o mais leve sinal de prece
no
ideal destemor dos príncipes malfeitores
que
contaminam o céu todo.
Retenho
apenas a parte do horizonte
onde
depressa o sol decaíra em seu desmaio
à
espera dos estorninhos delgados
e
da noite que já não fermenta o caos.
Penso
no mar
penso
na noite
penso
na insubmissão sem freio
o
criterioso moldar de um corpo
às
ondas imperiais
quando
o mar está a preceito.
Encontro
os rudimentos
que
me fazem levitar,
como
se, de repente,
todos
os poros em mim
todos
os milímetros do meu corpo
todas
as partículas da alma
todo
o olhar não desperdiçado
esconjurassem
os males
(os
maiores e os outros)
que
espreitam no dorso
de
um cavalo sem olhos.
E,
de repente,
vejo
os meus dedos percorrendo
as
teclas de um piano
magistralmente
assentando na praia.
Vejo
como
sem
tirocínio em música
sou
lídimo intérprete de uma partitura
de
instantânea composição minha.
Já
não adormeço
só
para emoldurar,
para
memória futura,
a
proeza destra.
Amanhã
são os dias todos.
Os
possíveis e os impossíveis.
Porque
as impossibilidades
passaram
a ter honras de possível.
E
eu
com
uma rosácea vivaz nas mãos
empresto
alimento ao mundo inteiro.