1.6.16

Maré cheia

Num tripé em vez da noite
de atalaia às sombras que invadem
a madrugada.
Os gritos ao longe
sussurram pungentes ocasos
reparando injustiças de outrora.
Não sei a que braços
me hei de ater:
se aos braços cansados e vigilantes
se aos braços desocupados
que passam as palavras a pente-fino
e passam a palavra a quem passa.
Talvez pergunte ao gato escondido
talvez faça levar a inquirição
a um mendigo doutoral
talvez pergunte à lua que espreita
entre duas nuvens.
Mas
se a noite traduzir uma pele enrugada
enquanto mastros vistosos sulcam o mar
talvez
traga a meus braços a sede do saber
um beijo no rosto frio e adormecido
as paredes sujas do quarto mais longe
as uvas brancas quase podres.
Seja num promontório
onde escuto o silvar do vento do norte
ou no tripé
que aguenta os olhos estremunhados
pela maresia.

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