Para
memória futura:
já
alguém sondou
a
serventia das coisas que julgamos úteis?
Já
alguém deu dois passos atrás
e
inquiriu o pensamento
sobre
as utilidades a que se emprestam
coisas
e ideias e pensamentos e paisagens?
Já
alguém depôs
neste
tribunal sem juiz
para
apurar os interstícios da utilidade?
E
se
alguém já empreendeu tamanha tarefa
sentenciou
a desutilidade de coisa alguma?
E
em
caso afirmativo
ficou
refém da angústia
ao
saber-se penhor de uma desutilidade?
É
que o tempo passado
na
almofada indistinta da desutilidade
pode
ser abrasivo
pode
ser motivo para rescisão da lucidez,
para
encostar à parede as ideias fátuas
e
pô-las sob a pontaria afinada
de
um pelotão de fuzilamento,
às
arrecuas.
Desenganem-se
os angustiados
com
a terrível sentença de que foram escrivães:
ao
aferir a desutilidade
somos
fiadores de uma utilidade maior
escrevemos
com letras graúdas
um
devir transfigurado
que
congraça utilidades novas.
Nem
sempre uma negação é uma negação:
há
vezes em que uma negação
desembaraça
caminho
para
a construção maior.
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