19.5.16

Sentença

Condenamos o quê?
A servidão
As amarras que freiam as mãos
As palavras suicidas
O frémito extemporâneo
As árvores inacessíveis
Os escrivães da frivolidade
Os poltrões de algibeira
As farsas sem causa inerente
Os pianos descaídos em rampas sujas
Sacerdotes impositivos de dedo em riste
A cobiça demencial
Os corpos untuosos em apertadas roupagens
A feiura dos belos
e a beleza dos feios
Os feitos ufanos na ponta da língua
A exacerbada monotonia dos dias repetidos
O desembaraçar de um enigma
Os punhais empunhados
As bandeiras de países em parada
Os ministros emproados
e os figurantes em pose de aspirante
A dança macabra do matadouro
A língua afiada dos desocupados
Os resguardos das almas em hibernação
A detestável ingratidão
A espera pelo nada que não se soergue
O que ficou por ser dito
e os pesares redondamente inúteis
Os despojos sem serventia abraçados às mãos.

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