5.5.16

Sou a tua sombra

Os violinos acordam a manhã
com a doçura da pele quente
ao meu lado.
Um beijo confessa a cor da alvorada.
E sei
que todos os poros cantados
arranjados para a decantação
em febril coação dos sentidos
– mas uma coação voluntária –
se embebem em graciosa coreografia
entre o cálice dos desejos em que se arvoram
enquanto a manhã nasce sem fim.
Os violinos arrepiam a pele
adestrados por anjos tutores
as mãos dadas que congraçam os corpos
as bocas que sorvem o vinho que canta
e se deita nos olhos arrebatados.
Deixamos aberta a cancela do tempo.
Os raios de sol
atirados pela aurora tardia
abraçam os nossos corpos
e nós sabemos que as flores inteiras,
as flores cheias de luxuriantes cores,
servidas em jarras de fina porcelana
esperam por nós à cabeceira.
E sabemos
que não sobeja nada das sombras
por nós entretanto desfeitas em luz trémula.
Os violinos
entoam as notas mágicas
e nós tiramos freio ao mais fundo de nós
deixando o tempo preso na moldura dos olhos.
Pois sabemos
que os violinos
e a alvorada
e o vinho portentoso
e os desejos desenfreados
e os olhos, as mãos, os corpos quentes
são apenas a grandeza maior
que encontra leito no corpo do poema.

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