Um
prego na estopeta
para
quem caça baleias em mar alto.
E
um tubarão furtivo
para
desenhadores dos mares.
Uma
cruz ao alto
para
ateus sem remédio.
E
as cores do Érebo
para
seguidores de igrejas.
Dois
beijos no rosto
para
frígidas emblemáticas.
E
algemas álgidas
para
amantes abrasadores.
Uma
montanha de arroz
para
modelos anoréticas.
E
um freio na boca
para
gulosos empedernidos.
Um
papel de embrulho
para
um desapossado da estética.
E
uma página em branco
para
um asceta da estética.
Um
chão firme
para
o nómada incorrigível.
E
um mundo aberto nas palmas das mãos
para
o sedentário esquizofrénico.
Um
manual de ideias
para
os sibilinos do obscurantismo.
E
um banho de humildade
para
os insaciáveis da erudição.
Quase
tudo em novo
para
os conservadores de linhagem.
E
um módico de estar
para
os ganhadores de vanguarda.
Uma
rosa dos ventos
para
cidadãos desgovernados.
E
um manual de Bastiat
para
aduladores da ordem social.
O
mar aberto
para
pastores de serranias.
E
as cumeadas pintalgadas de neve
para
os pescadores de alto mar.
Um
pau cinzelado a cobre
para
os pioneiros da maré.
E
um copo de chá
para
elefantes brancos.
O
martírio assinalado
para
os devotos de perfeição.
E
a algazarra inominável
para
dementes do espaço.
Um
impropério banal
ao
polícia de costumes.
E
uma genuflexão
ao
meliante dos costumes.
A
noite adorada
para
os meninos bem-comportados.
E
a alvorada fresca
para
catedráticos bon vivants.
Um
livro de poesia
para
burocratas mangas-de-alpaca.
E
três quilos de formulários
para
poetas poltrões.
Um
olhar iracundo
para
o trovador das inconsequências.
e
um desleixo aluado
para
o zelador das coisas constituídas.
As
trevas sem fastio
para
o pintor psicadélico.
E
a impertinência das cores luxuriantes
para
cantores sorumbáticos.
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