4.5.16

Duendes

Um balcão sobre o mar
onde as cotovias voam paradas
na suspensão do tempo deletério.
Trouxe os braços cansados
e a boca cheia de fome.
Apregoam verdades
como se fossem estradas de sentido único
estradas de sentido obrigatório
e talvez não saibam
estes meirinhos da consumação fáctica
que são os mais insinceros de todos.
No balcão sobre o mar
pergunto às ondas se tem serventia
tantas verdades irrenunciáveis.
O mar não se descompõe
– talvez não tenha ouvido a demanda.
Dou por assente,
(mesmo assim)
que as verdades
as que são todas insofismáveis
atuam no palco onde se compõem
as mentiras maiores.
Não me lo disseram as ondas paradas
com o tempo deleteriamente suspenso;
foram as cotovias
em sublime coro ciciando ao ouvido.
(E não dei conta
que me contassem mentiras
sobre irrefutáveis verdades
– no quase nada que sei
sobre mentiras e verdades.)

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