30.6.16

Coroa sem espinhos 

Os poros da solidão
enfraquecem-se no rebordo do cálice,
enquanto um arrebatamento sobe
ao céu da boca.
Podem os raios do sol
planear um embuste dos sentidos,
o olhar anestesiado no torpor da luz.
Não interessa.
No planisfério reinventado,
onde apenas contam os contos
devolvidos pelo labirinto do pensamento,
águas frescamente verdes possuem o trono.
As folhas vicejantes de um ulmeiro,
resgatadas à raiz,
são o chão aveludado onde se entretecem
palavras que arredondam uma quimera.
As temíveis montanhas
onde a solidão tinha porto franco
perderam os pergaminhos de embaraço.
Uma mortalha em forma de coroa real
ascendeu ao corpo transido.
Não importava que invocassem
ardis ou ilusões ou fantasias.
O chão inteiro pertencia-me,
na paciente empreitada.
Juntei por todo os parcos haveres
e troquei-os
por um lago que se perdia de vista.
Um lago onde as águas lavadas
eram o propósito da transfiguração.

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